Ilustram essa reportagem fotos de Castilho (acima) e Janduari Simões.
Acervos do Instituto Floresta Viva e PESC.
Uma das unidades de conservação (UC) da Mata Atlântica, mais importantes do nordeste brasileiro, o Parque Estadual Serra do Conduru (PESC), completou 15 anos de criação em fevereiro último. Nesse período, muitas lutas e conquistas em favor da proteção de uma floresta considerada como uma das mais importantes para a proteção da biodiversidade.
Marcelo Barreto, 45, gestor do PESC, fala sobre sua gestão e dos desafios do Corredor Ecológico Esperança- Conduru, anuncia novos investimentos e garante que a área obterá ganhos significativos ainda em 2012.
Marcelo é engenheiro agrônomo, e técnico concursado da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) do Estado da Bahia, cedido ao Instituto Estadual do Meio Ambiente (INEMA). Confira a entrevista a seguir:
Qual a abrangência e os limites do Parque?
# O parque está inserido em três municípios: 15% na área norte de Ilhéus; 45% em Uruçuca - que corresponde a 12% desse município; e o restante, 40%, no município de Itacaré. Isto complica um pouco a administração do Parque, pois temos que lidar com três comarcas, três prefeituras, três municípios totalmente independentes.
# O PESC foi uma proposta dos ambientalistas, um ganho da sociedade civil. São 9.275 hectares, dos quais 52% já estão regularizados, e sob o domínio do parque. Temos fragmentos florestais, que são considerados de alta relevância para a preservação das espécies. No sul da Bahia, nós temos 80% do restante da mata atlântica de toda a região Nordeste. O Conduru é área foco, considerada de relevância para a mata atlântica como o todo.
Qual a importância do PESC em níveis nacional e internacional?
# O PESC tem maior visibilidade internacional. Foi recorde em biodiversidade, e varias instituições importantes, a exemplo do Jardim Botânico de Nova York, estiveram aqui para constatar o que temos de tão precioso.
Qual a importância para o sul da Bahia?
# O PESC agrega as mais diversas instituições, nas três esferas. Temos, aqui, no Parque, conceitos de gestão que estão sendo implantados em nossa região. Poucos lugares no mundo têm a possibilidade de obter esses benefícios.
Como o PESC está inserido no corredor ecológico?

Qual o relacionamento do PESC com as comunidades circunvizinhas?
# É uma questão relacionada a mudança de paradigma. As comunidades tinham, tradicionalmente, uma cultura de sobrevivência, de extração da madeira. Nosso objetivo é que as comunidades ganhem dinheiro com a floresta em pé. Representa mudança de cultura. Não desconhecemos que ainda existem infratores desmatando e caçando. Só que já diminuiu bastante esse problema. Não temos mais tantos problemas com a prática da agricultura familiar. Hoje, os moradores do entorno da área de influência do Parque são parceiros, auxiliando na denúncia de eventuais infratores.
Já é possível constatar o uso sustentável e inteligente da floresta?
Isso é suficiente para coibir a ação de invasores e pessoas que insistem em manter um relacionamento ruim com o Parque?
# O estado da Bahia pecou, por não termos, no quadro de funcionários, os guarda-parques. O problema é que o Parque possui muitos acessos, que facilitam a ação de invasores, principalmente nos fins de semana. Infelizmente, ainda não temos uma fiscalização sistematizada. Estamos resolvendo essa questão ainda esse ano. Só com os guarda-parques, teremos o domínio total da área. Por enquanto, as comunidades, formada por agricultores e proprietários do entorno, desempenham o papel de guardiões.
Os invasores colocam em risco a sobrevivência do Parque? A destruição provocada influencia negativamente os recursos? Qual o prejuízo?

Muito se fala da biodiversidade dessa região, mas a maioria da população, mesmo local, desconhece a diversidade de plantas e bichos que temos aqui. Nos fale um pouco mais sobre essa riqueza.
# Diferente das Savanas, na Mata Atlântica, é mais difícil para contatar com os animais, até porque, hoje, esses animais estão na linha da sobrevivência, correndo atrás do prejuízo, e os caçadores são sempre uma ameaça. O fato do Parque está interligado com outros fragmentos, faz com que ele ainda tenha muitos animais ameaçados de extinção, como a iara, a lontra, o macaco-prego-do-peito-amarelo, o jacaré-do-papo-amarelo e a onça parda. O Parque também protege vários pássaros ameaçados, como o mutum-do-nordeste e a harpia. Temos que considerar, também, muitos animais que ainda não foram identificados. Os animais precisam de grandes extensões, e o PESC é um bom refúgio para vários grupos, de várias espécies. Nós temos aqui várias espécies na lista vermelha do IBAMA (4). O Estado da Bahia também está formulando a sua própria lista de espécies em condições de risco.
# A principal ameaça da perda da diversidade é o desmatamento. Enquanto a gente não conseguir combater totalmente esse mal, essa ameaça vai continuar sendo real. Outra questão é a introdução de espécies exóticas, que é a segunda causa de perda de biodiversidade. Como nós temos vários fragmentos, isto impede um pouco a introdução dessas espécies. Nós temos o capim brachiaria, o próprio cacau e a seringa, que são da Amazônia, e várias outras espécies que acabam ameaçando a fauna nativa.
Então o desmatamento continua?
# Já esteve pior. O desmatamento foi muito mais intenso. Minha vontade é que seja reduzido a zero, que ninguém tire nada de dentro do Parque.
# Antigamente, pensava-se que só preservar uma unidade de conservação bastaria. Era o pensamento da ‘ilha’, que não se concretizou. As espécies precisam ser dispersadas; precisam de cruzamentos ao longo do tempo; e quanto maiores essas áreas, e a integração com outras unidades, melhor para a floresta e o homem, só têm a ganhar.
Parte da opinião pública regional acha que a proteção desses remanescentes do sul da Bahia é um radicalismo, e que isto conspira contra o desenvolvimento. O que tem a dizer sobre isso?
# Dá para conciliar muito bem desenvolvimento com preservação. O que está faltando é adequar, equilibrar as coisas. Hoje, você vê no sul da Bahia que a produtividade é baixíssima. São muitas áreas abertas sem produzir nada. Acho que não precisamos abrir mais nenhuma área para produzir. O que nós precisamos é de levar tecnologia para o campo, melhorar os plantios, nossas criações, e assim, com certeza, todo mundo sai ganhado: o homem, o meio ambiente, o país.
Você disse que apenas 52% da área desapropriada para o Parque já foi regularizada. Analisando esse percentual, que ultrapassa um pouco a metade da área total, você acredita que, em quanto tempo vai ser possível alcançar a regularização total?
# A lei do SNUC (5) prevê que 0,5% dos grandes investimentos sejam destinados à compensação ambiental, e aponta que a prioridade para esses investimentos é a regularização fundiária das Unidades de Conservação (UCs). Hoje, a Bahia tem em torno de 40 a 50 milhões já disponíveis, e criou uma Câmara de Compensação Ambiental, que está funcionando dentro da diretoria, através de um grupo formado para a consolidação territorial e regularização fundiária das Ucs. Esse final de semana já tem um grupo de São Paulo fechando um termo de referência para contratação de uma empresa especializada, e acredito que isso dará mais celeridade a esse processo de regularização fundiária.
Como tem atuado o Conselho gestor do PESC?
# O Conselho Gestor é da maior importância para as Unidades de Conservação. A gestão participativa, na verdade, começou com essas unidades, e hoje é uma realidade em vários segmentos. O Parque está de parabéns. Tem uma secretaria atuante. Acabamos de aprovar um projeto no FunBio (6), que dará uma nova dinâmica ao Conselho, e, ainda esse ano, queremos avançar bastante, juntos, pensando coletivamente.
O parque tem recebido visitantes, pesquisadores? Qual a procura pelo Conduru?
# Intensificou-se bastante a procura pelo Parque, pelo fato do aumento de sua área. Os pesquisadores ficaram sabendo da biodiversidade existente. A procura é grande. São várias universidades, como a UESC, a UESB, a UFBA, além das universidades americanas que fazem pesquisas. O Parque tem uma agenda semestral, sempre com visitantes por aqui. Tem muito material sendo produzido por pesquisadores e estudantes.
O parque dispõe de infraestrutura para alojar esse público?
Você mora aqui? Já teve problemas com os infratores por defender a preservação do PESC?
Então, podemos dizer que esses infratores confundiam a sua missão de funcionário público, de representante do estado, com a sua vida pessoal?
# O dever da preservação é de todos nós. Essa consciência não foi ainda amadurecida pela sociedade. Para isso que existe o funcionário público e a força do Estado pra colocar ordem, onde não tem. Aqui, foi na base da força. Os madeireiros, os infratores, ainda vão ver muito a presença do Estado, da polícia, e inquéritos administrativos que ainda poderão ocorrer nessa área.
Quais os próximos passos na agenda do PESC?

Teremos um grande ganho com a contratação dos guarda-parques. O edital será publicado em abril próximo. A Casa Militar já esteve aqui e constatou a necessidade. Serão 20 guarda-parques armados, circulando no interior do Parque, mantendo sobvigilância as pessoas que circulam na área. Vale informar que, nessa reestruturação dos órgãos ambientais do Estado, foram criadas as Unidades Regionais (UR´s). Itabuna foi eleita como uma unidade regional. Ilhéus será um posto avançado, ligado a UR de Itabuna, mantendo sua independência. A tendência atual é de fortalecimento da gestão ambiental no sul da Bahia.
(1) UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
(2) Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil. É uma iniciativa do governo e da sociedade brasileira, em parceria com a comunidade internacional, que tem como finalidade o desenvolvimento de estratégias inovadoras para a proteção e o uso sustentável da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica, associadas a melhorias na qualidade de vida das populações locais, O Programa Piloto constitui o maior programa de cooperação multilateral, relacionado a uma temática ambiental de importância global.
(3) ONG - Organização Não Governamental
(2) Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil. É uma iniciativa do governo e da sociedade brasileira, em parceria com a comunidade internacional, que tem como finalidade o desenvolvimento de estratégias inovadoras para a proteção e o uso sustentável da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica, associadas a melhorias na qualidade de vida das populações locais, O Programa Piloto constitui o maior programa de cooperação multilateral, relacionado a uma temática ambiental de importância global.
(3) ONG - Organização Não Governamental
(4) IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Amb. e dos Recursos Naturais Renováveis
(5) SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(6) FUMBIO - Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
(7) CICCA - Companhia Independente de Policiamento de Proteção Ambiental - BA
(8) UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz
(9) UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(10) UFBA - Universidade Federal da Bahia
(8) UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz
(9) UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(10) UFBA - Universidade Federal da Bahia